Arquivo de julho, 2022

“Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus.”(Mt 5,9)

O caso que aconteceu na noite de sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR), a meu ver, nada tem a ver com política, no sentido real da palavra. Segundo o filósofo grego Aristóteles, “a política é a ciência que tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na Cidade-Estado, ou pólis), e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva).”¹

Estamos muito longe do supracitado por Aristóteles. Nossa atual política tem deixado de buscar a felicidade humana e se desviado pela busca do alcançar, ter e manter o poder pelo poder para servir-se do poder.

Em certo sentido a polarização não é má em si mesmo. Isso quando é entendida como estar em polos opostos. Assim sendo, em estado democrático de direito, é legítimo que cada indivíduo possa escolher em que lado se posiciona de forma político-partidária. Isso é sinal de que vivemos em uma democracia. Todavia, a polarização é má e doentia quando não se sabe se posicionar sem ofender, sem desconstruir, sem cancelar, sem agredir, ferir ou matar o outro. A polarização é destrutiva quando de minha parte não há respeito ao outro que usando de sua liberdade se posiciona diferente de mim. Independente de que em que lado do espectro político ela se posicione – toda pessoa deve ser respeitada naquilo que crê e defende, desde que isso não afete prejudicialmente a sociedade em geral. E se afetar, deve-se buscar os meios legais para contê-la, e não fazer uso do justiçamento.

Pela falta de respeito ao inalienável direito do outro, a nossa sociedade está ficando enferma e cada vez mais enfermante. Isso fica evidente quando um candidato concorrendo a seu possível terceiro mandato como chefe do executivo federal elogia em público um de seus correligionários que também usou de violência contra um opositor que gritava ofensas contra ele.

E na crescente escalada da violência, o diagnóstico mais claro de que nossa sociedade adoece dia a dia, se torna inconteste quando uma pessoa tem o seu espaço invadido por um elemento que em nome de sua ideologia e de seu posicionamento partidário faz disparos e mata seu oponente político, (o dono da festa) em pleno dia do seu aniversário, na frente de sua esposa, filhos e amigos. Essa pessoa teve violada seu espaço e reagiu de acordo com o defendido por quem realmente é conservador. Ela, em legítima defesa de si e dos seus, apesar de ter sido atingida primeiro, do chão reagiu e feriu o seu agressor, porém, não sobreviveu aos disparos recebidos, enquanto o agressor segue vivo hospitalizado.

Os dias são maus!
Os tempos são de trevas e dissabores!
Falta tolerância, falta luz, sal e bom fermento em meio a massa social. Em meio aos gritos, discursos e atos de ódios dos lados extremistas, é preciso levantar mais o volume e se fazer ouvir as vozes e tornar público os atos daqueles a respeito dos quais Jesus Cristo disse: “Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus.”(Mt 5,9)

Orando por meu País e minha amada gente brasileira, eu encerro esta reflexão com a letra de “Palácios” – antiga, mas sempre atual, canção de Rebanhão:

“Não se acende a luz do Sol
Nos 220 volts dos palácios de Brasília
Não se acende a luz do Sol
Com as chaves de um carro conversível do ano
Não se acende a luz do Sol
Com a ponta de um cigarro, um baseado, coisa assim

Pra que medir força com o Sol da Justiça?
Pra que querer brilhar mais que a Estrela da Manhã ?
Pra que combater o bem com o mal?

De que lado você está?
De que lado você está?
De que lado você quer ficar?
De que lado você quer ficar?

Onde está a honra dos orgulhosos?
A sabedoria mora com gente humilde
Liberdade, liberdade”

E então?
E a Igreja com isso?
E a Igreja onde está?
E a Igreja de que lado está?

José do Carmo da Silva – mano Zé

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¹ – Política. A definição de política – Brasil Escola – Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br ›


²Rebanhão.
Composição: Pedro Braconnot.